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1.
31 12:26
2.
36 15:00
3.
3136 19:41

about

Por Rodrigo Vetorazzo

Concluir uma obra, artística ou não, é passar da intenção à realização. Quando pensa-se nisso logo é imaginado um demorado caminho entre estes dois polos que inclui ideia, planejamento, decisões, recusas, esforços, por vezes aborrecimentos e aguardadas satisfações. O processo de compor costuma integrar todos estes estados e, comumente, leva tempo. No caso de "3136", por se tratar de música espontânea, todas as fases citadas ocorreram simultâneas e instantâneas. Intenção teve duração muito curta pois na fração seguinte já era realização, devidamente gravada e com vaga garantida na posteridade.

Um teatro moderno, confortável e primoroso, e um bar de jazz soturno típico daqueles que se vê em séries norte americanas: em ambos os ambientes, bem distintos e provavelmente longínquos, caberia a performance deste disco. É música erudita e excêntrica conjuntamente. Forma convencional e não convencional conviventes e convenientes uma com a outra.

No título as idades dos dois instrumentistas na época da gravação e, curiosamente, idades que representam o "day after" de períodos determinantes da vida. Mesmo em 2017 os 30 anos ainda são (e certamente continuarão a ser) vistos como idade taxativa e cada qual encara a sua própria maneira, tênue ou não, a chegada - porém, aos 31 nota-se o óbvio de que a vida não para nos 30, na idade que tanto alarde se faz ao redor. Os 35, embora menos discutidos, tem lá seus subtítulos como "o fim da adolescência moderna" ou outros contraditórios entre si como "o auge da satisfação" ou "auge da solidão", fazendo dos 36 o capítulo seguinte de tal pico enigmático. Se estas idades, encaradas com bom humor, podem simbolizar desprendimento e supervivência após a crise dos 30 e o sobressalto dos 35, o disco nomeado com tais números assim o é também desprendido e despojado. Quem aos 29 ou até aos 34 ainda sofre com pautas de uma constituição comportamental invisível, os 31 e os 36 são boa pedida para simplesmente "ser", como as três longas faixas simplesmente "são".

Ao iniciar a escuta da primeira, "31", com poucos segundos já se nota a desconvicção: o sax soprano de Cássio Ferreira com notas que conseguem ser sutis e agressivas unidamente, enquanto Rodrigo Chenta batuca no corpo da guitarra acústica. Não só na madeira mas também nas cordas, causando timbres agudos e aflitivos. Só aos 1:20 de música que a guitarra entra dedilhada, cheia de propostas variadas, em litígio com um sax sem medo de ir ao extremo. Por mais que estejam ambos instrumentistas tomando decisões o tempo todo, em alguns pontos esta ação fica muito clara - como por volta dos 4:28 em que pausas e minúcias entregam as decisões e indecisões.

"Quem está conduzindo agora?" é uma pergunta frequente na audição. Nem sempre é possível definir pois rapidamente um dos dois pode desviar da proposta. Vide aos 5:36 em que o sax sugere um trilho, desenha-se então um cenário alegre, mas logo ambos ficam tortos indo cada um a um lado. Até que a guitarra insiste na mesma região por desmedido tempo e o sax se debruça sob a base formada, fraseando e podendo concluir a proposta apresentada. Já quando se chega aos 7:40 o ambiente é completamente outro e há duvida se os instrumentos não se tornaram, na verdade, uma flauta e um violão, tamanha suavidade e cautela. É a preparação para a parte final e mais curiosa, onde Rodrigo volta a atacar as cordas gerando sonoridade que lembra chuva. Os timbres do batuque se intensificam e a chuva vira chuva de pedra - se a faixa fosse ter outro título ou um subtítulo talvez "Chuva de Pedra" cairia bem. O sax emite ventania e causa o momento mais imagético da faixa. Se música é todo som organizado, espontâneo ou não, aí está o testemunho.

Na segunda faixa, "36", a guitarra acústica da peça anterior dá lugar à maciça e inicia sozinha, propondo uma sonância mais popular e familiar aos ouvidos. O sax entra bastante areado, dando corpo à expectativa que o ouvinte já criou a estas alturas à sequência rotatória de 3 notas que a guitarra vem apresentando, que logo se transformam em 4, depois 5, assim crescente. Logo são ouvidos timbres bastante difíceis de identificar a origem, que lembram água escorrendo pelo ralo após o mesmo ficar entupido - teria sido causado pela chuva de pedra que caiu no disco a pouco? Chega a ser sombrio, incitando muita atenção. Os sons parecem presos dentro de algum lugar da guitarra e agonizam como uma ave presa dentro de uma gaiola, enquanto o sax regojiza-se de liberdade do lado de fora. Só aos 4:30 é que os zumbidos parecem ter encontrado uma frestinha de luz na madeira e podem sair, manifestando-se nas cordas ainda com a visão fragilizada pela claridade repentina.

A ausência de um comandante continua sendo atestada: em torno dos 7 minutos, após audível titubeação, ambos instrumentos se decidem por uma levada mais dançante, mas não demora para que a guitarra mude completamente e soe angustiosa enquanto o sax fica ainda mais funkeado. Mais adiante, aos 9, a guitarra opta por uma região bastante inusitada abusando do grave, causando sons longos que recordam tambores orientais gigantes. Talvez inspirado por isso ou não, o sax opta por uma linha que recorda tal cultura. Logo o sax queda-se nervoso, bastante nervoso, e a guitarra vai na onda, destruindo a serenidade oriental ambientada parindo sons, imagens e sensações tudo junto. Até o final da faixa o desconforto vai do grave ao agudo e ao grave de novo, passeando pelas alturas, amenizando pra depois agredir mais, sugerindo que ambos instrumentos foram rebentados a exaustão e abandonados.

Se a primeira faixa já começava quebrando as expectativas do que um ouvinte poderia esperar de um disco de sax e guitarra, a última, "3136", entrega o esperado pelo senso comum a um duo destes dois instrumentos: iniciam juntos, melodia bonita, sax agitado e guitarra amena, as devidas inversões de intensidade, o que se repete em alguns momentos ao longo da faixa. Há acordes da música "Giant Steps" do saxofonista John Coltrane e trechos do jazz "All The Things You Are" composto por Jerome Kern, jazz este que breve completará centenário.

Alguns momentos merecem destaque, como o raro coro aos 2:38 em que ambos instrumentos vão e param juntos algumas vezes. Já perto dos 4 minutos vem a aflição e, enquanto a guitarra vai pra uma levada mais rock, o sax emite longas notas que lembram distorção de guitarra. Há breve citação de Metallica e interessantíssimo momento em que o sax sola sob a base da guitarra com tamanha altura e vivacidade de modo que caberia muito bem em qualquer metal, bastante criativo e arrojado. Mas neste disco os cenários duram pouco e logo adiante, em meio aos 6 minutos, outro momento é proposto, bem confortável e contemplativo. Segue-se um longo tempo com o que, conforme dito mais acima, talvez seja o que boa parte dos ouvidos espera de um dueto instrumental desses.

Se aproximando dos já 13 minutos de peça, após dedilhados e dedilhados de guitarra, o sax também a passa ser utilizado fisicamente como percussão gerando timbres inéditos e curiosos. A guitarra aprecia a ideia e ouve-se então um excepcional solo de batucadas feito por guitarra e saxofone - curto, mas muito significativo. Em seguida Rodrigo permanece na percussão enquanto Cássio fraseia, e é impressionante pensar que tais batidas são feitas apenas por duas mãos e um instrumento, tamanha variedade e disparidade. A sequência final é de suspense, em que a essência do disco vem a tona com tantas notas pouco usuais. Ambos, neste encerramento, conseguem soar tão sutis e tão presentes que é de se admirar. As notas vão parando aos poucos e então as vozes de quem as produziam são ouvidas.

Música independente é assim chamada quando não depende de investimento institucional, dependendo exclusivamente da força de vontade de seus realizadores. "3136" é uma obra duplamente independente: não só nos termos burocráticos de mercado, mas certamente tão inquietante e misteriosa aos seus próprios criadores que é quase uma criatura independente.

credits

released June 6, 2017

Cássio Ferreira: Saxofones soprano e alto. (canal direito).
Rodrigo Chenta: Guitarras acústica e sólida. (canal esquerdo).

Gravado ao vivo por Adonias Souza Jr. no Estúdio Arsis em 22 de abril de 2017.
Assistência de gravação por Fellipe Baldalf.
Mixado e masterizado por Pedro Pimentel entre 30 de abril e 6 de junho de 2017.

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about

Rodrigo Chenta São Paulo, Brazil

Rodrigo Chenta atua há mais de 20 anos como professor, compositor e intérprete, além de participar de gravações e apresentações com diversos grupos e formações instrumentais.

Possui vários álbuns, tanto em sua carreira solo, como em projetos com Cássio Ferreira, Ivan Barasnevicius, Schizophonic Music Project, Beautiful Music Company, etc.

www.youtube.com/rodrigochenta?sub_confirmation=1
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